O que nos faz únicos?
Sob os olhos da ciência só o fato de povoarmos um planeta localizado no local certo, na distância correta de seu sol e sermos os sobreviventes de tantos eventos que nos pouparam para a evolução, já se constitui em motivo suficiente para explicar nossa condição única e diferenciada.
Mas somos muito mais do que isso. Somos capazes de enfrentar longos nove meses, nos fortalecendo e captando tudo ao nosso redor para começarmos uma jornada incerta e cheia de desafios. Respiramos o primeiro ar quente de nossas vidas, choramos incomodados e assustados: sons, luzes, toques, dor, frio.
Então somos colocados juntos daquela que nos abrigou durante esse tempo. Quase que por milagre o choro finda. Por um breve momento toda a familiaridade do seu cheiro, do seu calor, do som da sua voz nos acalma. Tudo passa a ser tranquilo por um segundo.
Logo nossa jornada continua e passamos por mãos estranhas, locais desconhecidos e de tempo em tempo voltamos ao conforto dos braços de nossa já velha conhecida.
Assim vamos crescendo. Da mesma forma que no início, sempre estamos nos afastando dela por alguns breves momentos.
Novas sensações vão se somando ao seu já vasto repertório de delícias. O cheiro de comida no fogão, o banho quente cheio de espuma e brincadeiras, as promessas de cura com um beijinho, o chá quente pros dias de caminha e dodói, as estórias na hora de dormir, o conforto do colo ao lado da luz de velas quando a energia acaba…
Inevitavelmente a vida nos empurra para frente… acelerada e afobada como é, nos convence a crescer ainda mais. Então nos vemos cheios de novas responsabilidades. Corremos contra prazos, contra o tempo e quase sem perceber nos afastamos daqueles braços, daquele colo.
Alguns de nós irão buscar sua carametade e a família de uma hora para outra cresce. Paralelo ao milagre dos filhos surge o paraíso chamado “avó”.
Voltamos a vivenciar toda aquela maravilha de delícias que vivemos em nossas infâncias mas dessa vez somos expectadores.
Aquelas mãos familiares agora estão mais cansadas mas ainda são ágeis na confecção de agrados pros pequeninos. Pipoquinha açucarada, lanchinho da tarde, bolinho de chuva, esfirrinha aberta e uma ou outra novidade criada somente para os netos… que inveja.
Só que a vida é surpreendente e nem todas as surpresas são boas. Pensamos as vezes: para tanta bondade e afeto a vida só pode reservar o melhor.
Mas a doença chega. Silenciosa e furtiva se instala. Começa então um jogo de gato e rato mas nesse jogo o rato é muito esperto. Consegue as vezes se esconder e até pensamos que ele não irá mais aparecer mas ele volta. As vezes mais veloz e voraz… as vezes mais silencioso. Os anos passam e a luta começa a mostrar os seus danos. As mãos enfraquecidas já não preparam os quitutes mas se prestam perfeitamente ao carinho, ao afago. Aquela que nos dava colo é quem agora precisa de um. A ela são retribuídos o chá, a sopinha, uma colcha quente, um carinho e tudo aquilo que se pode fazer para confortá-la.
E ela fortalece. Mais uma vez achamos que o tal rato está enfraquecendo. Podemos então passar um Natal maravilhoso. Todos reunidos e com direito a falta de energia, luz de velas, família reunida, netos já crescidos, presentes, alegria e amor.
Mas lembram que a vida surpreende? Então um dia ela não passou bem e foi internada. Pensamos que seria apenas mais uma das tantas batalhas que ela já tinha superado. Afinal estamos falando de “Vovó Bebeti” como os netos ainda pequeninos aprenderam a pronunciar. E ela lutou esse último round como de costume. Sempre humorada, cativante e altiva.
Dia 4 de abril de 2011, as 6 da manhã a batalha enfim terminou.
“Vovó Bebeti” deve ter pensado que se realmente existe um céu e ele é tão bom assim então com certeza deveria ter um buteco vendendo uma cerva gelada e um monte de gente legal pra puxar uma conversa. Então ela resolver dar uma passada lá pra conferir. A festa lá deve estar montada a uma hora dessas. Ela já deve ter encontrado a minha Vó Deusa e a farra lá deve estar monstra. Hoje já deu um trovão e deve ser o pessoal lá de cima puxando as mesas pra abrir espaço pra dançar.
No meu coração a saudade já é quase insuportável.
O que nos torna únicos? Eu mesmo não faço a menor idéia mas a mãe da gente com certeza é única. Ela sempre é mais legal, mais bonita, mais carinhosa do que a mãe das outras pessoas. Mamãe Bernardete foi e sempre será a melhor mãe do mundo… palavra de filho.
Que Deus te abençoe minha mãe. Te amo muito e te tenho no meu coração todos os dias.
Até mais ver!!!
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